JUDÔ DE BASE

 Durante o Tokyo Grand Slam 2024, a AJJF lançou o seu guia de Desenvolvimento a Longo Prazo (Long-term Athlete Developement). O guia foi redigido pelos professores Katsuhiro Koyama e Takanori Ishii , trazendo as intenções e desafios observados pela AJJF no desenvolvimento do judô no Japão, bem como os direcionamentos e os seis estágios de desenvolvimento propostos.  ACESSE AQUI - LTAD AJJF Documentos similares já haviam sido publicados por outras entidades esportivas como o Judo Canadá (material bem completo que pode ser acessado aqui ) e pela Confederação Brasileira de Judô ( acesse aqui ). O Comitê Olímpico do Brasil também tem o Modelo de Desenvolvimento de Atletas ( acesse aqui ).

 O seoi-nage ajoelhado (suwari-seoi-nage ou seoi-otoshi) é uma das técnicas mais utilizadas em competições. Nos levantamentos apresentados neste blog, o suwari-seoi-nage aparece atualmente em sexto lugar entre as técnicas efetivas utilizadas por medalhistas nos eventos do IJF World Tour de 2018 a 2022 analisados ( acesse aqui ). Em eventos nacionais (no Brasil), as variações do suwari-seoi-nage também aparecem como técnicas mais efetivas entre as medalhistas do sexo feminino em competições escolares ( acesse aqui ) e Sub-21 ( acesse aqui ). Johannes Frey (GER) vence um de seus combates no WC Tashkent 2022 com suwari-seoi-nage. De fato, parece haver algumas vantagens na execução ajoelhada do seoi-nage ( Sacripanti, 2014 ): Economia de energia (o braço da alavanca é mais longo); Kuzushi menos necessário (o movimento de "mergulho" atua como kuzushi); Tsukuri mais fácil (é o corpo do uke que se encaixa no corpo do tori); Eficaz para superar o bloqueio do uke (os braços são menos ...

 Com frequência, comento sobre a relevância da variabilidade nas análises de desempenho dos atletas de judô nos eventos da IJF. Isso está relacionado à IMPREVISIBILIDADE, ou seja, se o seu oponente não conseguir prever suas próximas ações, ele terá dificuldades para conseguir defender ou realizar um contragolpe. Assim, o tori aumentaria suas chances de pontuar. Outra tática utilizada pelos atletas para diminuir a previsibilidade de suas ações são as fintas, que podem ser definidas como ações falsas com a intenção de fazer o oponente reagir incorretamente ( Sannohe, 2007 ). O termo em japonês para fintas é damashi-waza ( Sacripanti, 2014 ). Ilustração didática da execução de um tipo de finta, disponível no único estudo encontrado sobre fintas no judô: Methods of feints in judo throwing techniques - Sannohe (2007) ( acesse clicando aqui ) Nas análises das ações efetivas dos medalhistas em eventos do IJF World Tour publicados nesse blog, as fintas geralmente ocorrem nos ataques realiz...

  As capacidades coordenativas são elementos importantes a serem desenvolvidas nos treinamentos de judô. No livro Iniciação Esportiva Universal - vol. 1 , os autores Greco e Benda definem coordenação como a harmonização dos processos parciais do movimento, visando o menor gasto energético possível. Assim, eles dividem a coordenação em 7 capacidades: Diferenciação Relacionada à qualidade dos movimentos Acoplamento União de movimentos parciais em uma sequência acoplada/coordenada Reação Resposta rápida à um sinal detectado Orientação Atuação no espaço, com companheiros, com adversários e com elementos (bola, raquete, barra, etc.). Equilíbrio Manter e recuperar a estabilidade. Mudança Adaptação e variação à novas situações/posições/direções, sem perder continuidade do gesto. Ritmo Seguir e executar movimentos conforme sinais externos ou internos. A partir desta proposta, o treinador pode identificar as capacidades que podem (ou que precisam) ser desenvolvidas nos treinamentos técnico-...

  Tradicionalmente, os modelos de treinamento técnico-tático nos esportes de combate se baseiam em executar muitas repetições das técnicas. Estas execuções tendem a ser baseadas em um modelo técnico pré-estabelecido (o jeito certo de fazer aquele golpe) e repetidos de forma cíclica por diversas vezes. No filme "Karate Kid" (2010), Dre é orientado a tirar é colocar seu casaco consecutivamente para desenvolver determinada habilidade técnica. Ao selecionar os métodos de treinamento a serem utilizados nas diferentes fases da periodização técnico-tática, o treinador deve levar em conta quais métodos vão desenvolver o controle motor (geralmente com execução de habilidades motoras fechadas) e quais podem contribuir no desenvolvimento da tomada de decisão (envolvendo habilidades motoras abertas). Uma forma simplificada de classificar os métodos de treinamento técnico-tático é a proposta por Platonov: Sem adversário  Com modelo de adversário  Com parceiro Com adversário  Trec...

 Estamos treinando o cavalo ou o cavaleiro? Ou ambos? 🤔 Ouvi esta frase em 2012, durante uma palestra do Prof. Dr. Go Tani. Neste caso, treinar "o cavalo" seria desenvolver o controle motor, enfatizando principalmente a aptidão física (força,  resistência, velocidade, etc.) com métodos que enfatizam o controle motor (e sao limitados pelo estágio de aprendizagem motora do praticante). Já treinar o "cavaleiro" seria desenvolver a tomada de decisão,  estimulando os órgãos sensoriais e mecanismos perceptivo, decisório e efetor. Quando pensamos no treinamento técnico-tático no judô, temos que buscar treinar tanto "o cavalo" quanto "o cavaleiro", mas cada fase do treinamento pode enfatizar um, outro ou ambos.  Para isso, uma categorização dos métodos de treinamento pode ser bastante útil.  Quer saber mais sobre treinamento técnico-tático? Confira o curso da Nowsai

A classificação das técnicas de projeção ( nage-waza ) em grupos similares é uma proposta geralmente utilizada no planejamento do treinamento técnico-tático e na análise de desempenho no judô. Para isso, treinadores tendem a utilizar a classificação tradicional do judô,  que faz a classificação das técnicas por critérios anatômicos: Ashi-waza : técnicas de perna Koshi-waza : técnicas de quadril Te-waza: técnicas de braço  Sutemi-waza : técnicas de sacrifício, subdivididas em frontal ( ma-sutemi-waza ) e lateral ( yoko-sutemi-waza ) Em 2014, pesquisadores espanhóis publicaram uma proposta alternativa bastante interessante para a classificação das técnicas de projeção. Com base na Teoria do Esquema ( veja um resumo aqui ), os autores propõem a divisão das técnicas em nove grupos com similaridades motoras. Apresentação da proposta de Dopico et al. (2014) no curso online Iniciação e Direcionamento no Judô  ( conheça o curso clicando aqui ). Acesse o artigo original em https:...

 Em um artigo recentemente publicado, pesquisadores poloneses realizaram uma revisão sobre métodos de ensino-treinamento do judô para crianças entre 4 e 12 anos de idade, buscando responder as seguintes questões: 1. Quando as crianças iniciam no judô? R: Alguns autores sugerem que as aulas de judô poderiam iniciar em idade pré-escolar, entre 4 e 6 anos de idade. 2. Quais são as recomendações quanto à frequência e duração dos treinos nesta faixa etária? R: Para crianças entre 4 e 6 anos de idade, a literatura atual recomenda sessões de judô com duração entre 30 e 60 minutos, com frequência semanal de 2 a 3 sessões.  As sessões para crianças entre 7 e 12 anos podem ter duração e frequência superior, sendo sugerido 3-4 sessões semanais de 45-90 minutos. 3. Objetivos das aulas R: Desenvolvimento da aptidão física geral (coordenação, agilidade, velocidade, equilíbrio...) e aprendizagem das técnicas as de amortecimento de quedas (ukemi-waza), além das técnicas básicas da modalidade....

Visando documentar as propostas metodológicas adotadas nas diferentes classes etárias nas quais atua em eventos nacionais e internacionais, a comissão técnica das Equipes de Transição da Confederação Brasileira de Judô elaborou um manual detalhando as características das classes, aspectos técnico-táticos, meios e métodos de treinamento e monitoramento, aspectos relacionados à saúde, aspectos comportamentais, objetivos competitivos, dicas de atletas medalhistas olímpicos e mundiais, e aspectos relacionados às habilidades para vida ( life skills ).  Desenvolvido ao longo de 12 meses, com o auxílio de consultores acadêmicos e contribuições de profissionais experientes no esporte de alto rendimento, o documento aborda as classes Sub-13/Sub-15, Sub-18, Sub-21 e Sub-23 (Transição para o Sênior). O documento é gratuito e tem livre acesso no link abaixo (em português): https://cbj.com.br/painel/arquivos/documentos_oficiais/arquivo_cbj_084202201221.pdf If you want to read it in another lang...

  O LTAD Canadá é uma proposta de treinamento esportivo em longo prazo desenvolvida e aplicada em diversas modalidades esportivas canadenses, incluindo o judô. No segundo curso da JB E-Learning (Iniciação e Direcionamento no Judô) , abordamos superficialmente este modelo, mas também indicamos que há alguns pontos que vêm sendo criticados nesta proposta. Neste vídeo, em inglês mas com possibilidade de incluir legendas e gerar tradução automática, o Dr Felipe Sánchez (cheque o canal dele no instagram: @judotraining_info ) recebe o Dr Cornelis Van Kooten para discutir o LTAD Judo Canadá .

 Atuando na disciplina Metodologia de Ensino de Lutas na graduação de Educação Física, uma das aulas teóricas que mais gosto de apresentar e discutir com os alunos é a que analisamos as LUTAS TRADICIONAIS. Lista classificada por continente com informações e aspectos históricos de algumas lutas tradicionais Acho impressionante a quantidade de lutas folclóricas e culturais desenvolvidas em diferentes países que envolvem técnicas de domínio.  Lista de lutas tradicionais envolvendo ações motoras de domínio. Considerando as similaridades com as técnicas de judô, muitas destas modalidades podem ser adaptadas e inseridas nas aulas/treinos como uma forma motivante de criar novos desafios para os praticantes. Aspectos históricos e culturais destas lutas também podem ser algo interessante à ser desenvolvido com os alunos. Lutas tradicionais como Bokh (Mongólia), Chidaoba (Georgia), Kurash (Uzbequistão) e Kuresi (Cazaquistão) são bons exemplos de modalidades praticadas por atletas de jud...

A prática de judô sempre foi associada ao desenvolvimento de diversos aspectos comportamentais, embora publicações científicas sobre este tema sejam escassas. Um estudo conduzido por pesquisadores da Polônia e Canadá investigaram a mudança comportamental de crianças entre 4 e 6 anos de idade que praticavam 1-2 sessões/semana de judô (30-35 minutos/sessão) na escola de forma lúdica.  Para isso, os pesquisadores solicitaram aos pais de 46 judocas que respondessem um questionário com 14 perguntas (1 pergunta aberta e o restante perguntas três alternativas - sim, não e não sei). Acesse o artigo clicando aqui A pergunta aberta questionava os pais sobre os valores da prática do judô. Os familiares avaliaram que o judô teve impacto positivo em aspectos físicos (saúde e aptidão física), emocionais (serenidade, autodisciplina e prudência), intelectuais (coragem e solução de problemas), motivacionais (persistência) e sócio-morais (sensibilidade, responsabilidade e...